Entre ações concretas e falácias

Vinte anos após a realização da Cúpula da Terra, ou Eco-92, o Rio de Janeiro voltou a sediar um evento que tinha a preservação ambiental como pauta, a Rio+20, ou Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Nos dias 13 à 22 a capital fluminense efervesceu de diversos movimentos da sociedade civil, ativistas, indígenas, agricultores, mulheres, jovens, dentre outros grupos sociais.

A Rio+20 tinha como meta estabelecer um documento que visasse ações governamentais com a finalidade de assegurar um compromisso com o desenvolvimento sustentável. Para isso 193 chefes de estado se reuniram a fim de entrarem em um consenso e viabilizar medidas para salvar o planeta. Porém o que se observou no perpassar dos dias é que as questões econômicas ainda prevaleciam nas decisões globais.

Em paralelo a conferência da ONU, foi realizado a cúpula dos povos. Este foi organizado por entidades da sociedade civil e movimentos sociais de vários países. O evento aconteceu entre os dias 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, com o objetivo de discutir as causas da crise socioambiental, apresentar soluções práticas e fortalecer movimentos sociais do Brasil e do mundo.

As divergências entre essas duas conferências se tornaram visíveis bem antes da conclusão dos documentos finais. A Rio+20 procurava trazer para o debate o conceito de economia verde, ao passo que a cúpula clamava por justiça social e ambiental em defesa dos bens comuns, contra a mercantilização da vida.

Quem transitou pelo aterro do flamengo, local onde a Cúpula dos Povos era realizada, conseguiu visualizar a diversidade, várias tendas foram montadas para discutir as mais variadas formas de desenvolvimento hegemônico, como os bancos comunitários, agricultura agroecológica, economia solidária, tecnologias sociais, mídias livres e diversas outras práticas que tenham como finalidade ampliar a participação cidadã e elaborar métodos reais de desenvolvimento sustentável.

A declaração final da Cúpula denunciou que “Há 20 anos, o Fórum Global, também realizado no Aterro do Flamengo, denunciou os riscos que a humanidade e a natureza corriam com a privatização e o neoliberalismo. Hoje afirmamos que, além de confirmar nossa análise, ocorreram retrocessos significativos em relação aos direitos humanos já reconhecidos.”

Expõe ainda que “A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global. À medida que essa crise se aprofunda, mais as corporações avançam contra os direitos dos povos, a democracia e a natureza, sequestrando os bens comuns da humanidade para salvar o sistema econômico-financeiro”.

A falta de mudanças no discurso da Rio+20, em relação a Eco-92, solidifica mais a idéia de que nos resta agora esperar pela Rio+40, afim de que possamos viabilizar de forma mais ampla se as questões discutidas na Rio+20 foram comtempladas em sua totalidade, ou se os cozinheiros que causaram esses desastres prepararam um livro de culinária que possui a ausência de receitas completas. Talvez a única coisa que mude efetivamente de uma conferência para a outra seja a logomarca.

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