A parte submersa do iceberg

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- Então lá vamos nós explicar o ocorrido. Lido melhor com uma fala programada, aquela que temos tempo para averiguar as possíveis dispersões e ilusões da temática central. Partindo desse pressuposto torna-se subitamente necessário esclarecer o fato que transcorreu comigo no colégio.

A linha do gráfico que expõe o crescimento do conhecimento mundial nunca esteve tão acentuada e verticalizada como atualmente. Em um rápido relance nos noticiários visualizamos as mais diversas inovações e progressões no grande leque de áreas do conhecimento. Sejam elas as mais diversificadas, e inusitadas possíveis, sempre estão avançando as fronteiras do imaginário humano. Partindo de um pressuposto utópico poderíamos até bradar “Chegamos ao ápice do conhecimento”.

A informação, que é o elemento motriz da evolução do saber, duplica a cada dia. Diversas campanhas em prol do gosto pelo conhecimento são vistas diariamente. Programas governamentais se dispõem a investir em novos e famintos pesquisadores que tenham por objetivo final alcançar a tênue linha do saber. Linha essa que já foi tangenciada por muitos personagens mundiais, mas nunca ultrapassada, pelo contrário apenas distanciada.

O aprimoramento do conhecer é algo tão íntimo e tão subjetivo que não pode se estabelecer de outra forma que não seja pelo gosto. Bach, Newton, Einstein corroboram para fortalecer a lógica de que busca pelo conhecimento deve se dar de forma muito mais profunda e insaciável do homem que o busca. Sede de conhecer, até o ponto de perpassar por um dos elementos da alma do pesquisador.

É notório que as belíssimas obras de arte disponíveis hoje em museus espalhados pelo mundo, são frutos de uma paixão insaciável de seus autores por retratar o abstrato. As composições delirantes executadas por grandes músicos/compositores transpassam o ínfimo de seus sentimentos. Talvez o leitor possa questionar de que progredir em conhecimentos ramificados no campo da arte seja fácil, porque eles envolvem diretamente os sentimentos do autor.

A pergunta que faço é – O que, a não ser o gosto e paixão, fez com que físicos renomados passassem horas, dias, meses e anos debruçados em cima de pesquisas, livros, artigos para desenvolverem uma teoria? Alguns chegaram a passar a vida inteira contada a fio, pela simples busca de alcançar seu gosto inatingível. Não vejo a absorção de conhecimento como sendo algo que tem gênese no exterior da pessoa, mas como o pico de um iceberg que tem sua maior parte submersa no próprio eu.

E nessa narrativa abstrata e subjetiva, eu deparo com um obstáculo para alcançar a tão almejada linha do conhecimento. Esse obstáculo materializa-se em um sistema de ensino doente que insiste em superficializar e condensar qualquer jovem que se sinta entusiasmado e corajoso o suficiente para submergir em busca do restante do iceberg.

A geração Y brasileira, além de possuir caracteres voláteis e mutacionais, imerge de cabeça em um perigoso sintoma e estagmação. Sabemos pouco de muito, mas não sabemos muito de pouco. Estamos subordinados a um sistema que insiste em estratificar os conhecimentos em camadas superpostas. Ditando as rédeas do que deve ser conhecido, e não do que o pesquisador quer conhecer.

Assim, torna-se quase inviável estabelecer o gosto pelo conhecimento de algo que não procuro descobrir o porque. Será que é mais útil para um homem que quer trocar o pneu de um carro, uma ferramenta que tenha tudo-em-um, ou uma série de ferramentas especializadas e que desempenham sua função muito bem. Qual das ferramentas conseguiria atingir primeiro o objetivo final proposto pelo seu utilizador.

Exatamente assim funciona o mundo do conhecimento, a tênue linha do saber passa por um processo de horizontalização tamanha a ponto de impor um conhecimento sobre você. Não somos máquinas que cada um aperta seu parafuso para formar um robô multifuncional. Somos muito mais do que isso, pertencemos a uma classe de seres dotados de senso próprio e subjetivo, queremos servir naquilo que gostamos e com certeza seremos muito mais produtíveis.

 Paulo Freire é um ferrenho defensor de que os alunos deveriam construir seu próprio conhecimento. "A questão é que, com essas avaliações padronizadas, estamos matando o amor que as crianças tem por aprender. A aprendizagem baseada em projetos é uma resposta a isso", diz Jennifer Klein, consultora em educação global que capacita professores a usarem a aprendizagem baseada em projetos.

Talvez aqueles que conseguissem se libertar desse modo de aprender e alcançasse o tão almejado patamar de pesquisador, deveriam receber um troféu. Não, substancialmente, por terem contribuído no avanço do saber direcionado para aplicações práticas. Mas por terem mergulhado de cabeça no imenso oceano do conhecimento, livres de correntes que os aprisione e prontos para encontrar o tão sonhado, e imenso iceberg.

“Pur favor min ajudi!”. A gramática talvez não esteja correta, mas certamente compreendeu que busca por conhecer não se impõe, apenas basta abrir o cadeado da corrente. 

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Valores de papel

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          “Em muitos lares mexicanos os champanhes estouraram comemorando a chegada do ano novo e a entrada em vigor do Nafta (North American Free Trade Agreement) ou TLC (Tratado de Livre Comércio) ... A tão anunciada porta para o chamado primeiro mundo, como não cansou de propagandear o governo do então presidente mexicano Carlos Salinas de Gortari, eleito em 1988.

Mas naquela mesma madrugada de festa, das entranhas do esquecido México profundo, no coração da longínqua selva lacandona, milhares de mestiços e índios das etnias tzotzil, tzeltal, tojolabal, chol, mame e zoque, herdeiros da cultura maia, desceram das montanhas para ocupar várias cidades e localidades do empobrecido Estado de Chiapas.”

Pedro Henrique Falco Ortiz inicia sua resenha “Das montanhas mexicanas ao ciberespaço”, referenciada à EZLN, com os dois parágrafos precedentes. Torna-se evidente a conformação de duas cosmovisões antagônicas. Uma transpassa o estereótipo do dominador, que se apossa de artifícios propagandistas a fim de vender uma lógica egoísta. A outra se perfaz por interesses subalternizados e esquecidos pela indústria estatal.

A formulação da EZLN não foi ímpar e nem será a ultima. O fator contundente é que mesmo após o transcorrer de anos tais cosmovisões ainda se chocam e por mais contrastante que seja, oferecem as mesmas entranhas logísticas, insistindo então em uma revisão subjetiva. Isto uma vez que dominadores ainda insistem em propagandear suas façanhas mascaradas e forçar a adesão a suas práticas alienadoras.

A nível exemplificador podem ser citados o embate na usina de belo monte, a construção do setor noroeste em Brasília, e a desapropriação das terras dos Guarani Kaiowá. E a característica comum que perpassa por todos esses exemplos é a insistência sistêmica de minorizar qualquer traço cultural indígena “retrógrado”.

Chegamos em um ponto social que faz-se necessário refletir sobre quais aspectos e caminhos são norteadores da sociedade. Trata-se mais de uma questão de subsistência. Vivemos sob sistema econômico que subordina todas as relações sociais ao dinheiro e ao lucro, por mais que essas relações sociais, e porque não dizer familiares, sejam de povos que sempre foram donos da terra.

A atual conjectura de lutas comprova um fato histórico, que prevalece desde tempos da chegada do dominador e suas naus. Mesmo após 500 ano continuamos vivendo sob uma ótica dominadora que eurocentrista que busca cada vez mais concentrar valores de papel e diluir valores sociais concretos.

Precisamos transpor horizontes capitais e visualizar muito mais do que o frenesi do consumo. Devemos colocar em xeque um valor central da lógica dominante que é de mercantilizar a vida. Como dizia a canção “quando teu menino lhe perguntar, papai cadê o índio e a cachoeira, diga a ele, peraí meu filho vou ali comprar.”



A ditadura da especulação - http://vimeo.com/50859076

Frenesi Hierárquico

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Compreende-se como estrato uma camada que participa de um todo e possui características peculiares que a diferem das demais. Tendo esse conhecimento como base, a própria conceituação de estrato é passível de aplicação ao contexto social, pois desde sociedades remotas condicionou-se que a divisão da sociedade em camadas a tornaria mais estável.

O frenesi do consumo, agregado ao neoliberalismo das sociedades ocidentais e ao intenso desejo de acumulação de bens é uma terra fértil para criar uma nova lógica da estratificação social, que tem aplicabilidade acima de tudo ao mundo ocidental, pois além de estruturar a sociedade em estrados, torna-os extremamente hierárquicos.

A estratificação social no ocidental é delineada com base na renda que o indivíduo possui. Esse modo de dividir os estratos estabelece as desigualdades sociais que estritamente no Brasil tornam-se notórias. Instaura-se quase uma relação de simbiose do fator renda com condição social.

A pirâmide social constituinte da sociedade capitalista, prevê o fortalecimento cada vez maior dos nós que atam as disparidades sociais, uma vez que o modo de acumulo de bens é maciça e altamente umbiguista.

A temática da desigualdade social é que deu gênese a sociologia, uma vez que esta busca propor um novo modelo social que busca combater essa distinção entre os estratos. Jean-Jacques Rousseau propôs em sua tese que os homens nasciam iguais, mas eram postos em situação desigual na convivência com os outros.

O mundo social é composto de diversas dimensões, e em cada dimensão onde está presente a desigualdade, esta ajuda a fortalecer as desigualdades em outro campo. E isso é comprobatório para mostrar que as desigualdades se tornam um ciclo vicioso de difícil ruptura.

Não é necessário retorno ao “socialismo real”. Ninguém mais defende o controle direto, pelos Estados, dos meios de produção e das decisões sobre o que produzir e como trocar. A crítica é de outra natureza. Provavelmente, muito mais profunda, porque questiona as relações sociais e simbólicas associadas ao sistema – não apenas o grupo ou classe social que está em seu comando.

Subjetividade Paradoxa

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“Na sociedade capitalista ocidental o subjetivismo tem se tornado cada vez mais sinônimo de utopia.”

        A lógica mercantilista adquirida pela indústria cultural no mundo contemporâneo, faz com que esta lance seus holofotes aos artistas que adquirem uma hegemonia e alcançam o patamar de ídolo.

                O perfil de ídolo perpassa por características, que sobre tudo devem se aliar a uma estética criada por publicitários. Estes profissionais objetivam vender uma ideologia que tenha por finalidade a alienação dos indivíduos que projetam sua atenção sobre a propaganda.

                Assim os produtos culturais viabilizam quantidade em detrimento de qualidade, e nesse ponto entram em uma das características fundamentais do ser humano, pois o homem se caracterizar como um ser social e a despeito disso ele sente a necessidade de inclusão em um grupo.

                Porém quando o indivíduo se associa a uma massa que é alienada a um ídolo, instaura-se uma problemática, pois a massa é desapropriada de uma ideologia individual e adere a uma reflexão do ídolo.

                Esta ferramenta paradoxal concede a subsistência da indústria cultural. Pois ao mesmo tempo em que ela satisfaz uma necessidade básica do ser humano, cobra em troca um preço altíssimo, o abandono de uma lógica própria.

                Portanto é necessário primordialmente refletir a logística individual e estruturar de forma mais segura as bases da subjetividade, para construir cada vez mais uma sociedade opinante que não se baseia na enviesada lógica mercantil.

Só de Sacanagem

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Um poema de Elisa Lucinda


Meu coração está aos pulos! 

Quantas vezes minha esperança será posta à prova? 

Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. 

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? 

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? 

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. 

Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. 

Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar. 

Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau." 

Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

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