Archive for outubro 2012

Valores de papel

No Comments »


          “Em muitos lares mexicanos os champanhes estouraram comemorando a chegada do ano novo e a entrada em vigor do Nafta (North American Free Trade Agreement) ou TLC (Tratado de Livre Comércio) ... A tão anunciada porta para o chamado primeiro mundo, como não cansou de propagandear o governo do então presidente mexicano Carlos Salinas de Gortari, eleito em 1988.

Mas naquela mesma madrugada de festa, das entranhas do esquecido México profundo, no coração da longínqua selva lacandona, milhares de mestiços e índios das etnias tzotzil, tzeltal, tojolabal, chol, mame e zoque, herdeiros da cultura maia, desceram das montanhas para ocupar várias cidades e localidades do empobrecido Estado de Chiapas.”

Pedro Henrique Falco Ortiz inicia sua resenha “Das montanhas mexicanas ao ciberespaço”, referenciada à EZLN, com os dois parágrafos precedentes. Torna-se evidente a conformação de duas cosmovisões antagônicas. Uma transpassa o estereótipo do dominador, que se apossa de artifícios propagandistas a fim de vender uma lógica egoísta. A outra se perfaz por interesses subalternizados e esquecidos pela indústria estatal.

A formulação da EZLN não foi ímpar e nem será a ultima. O fator contundente é que mesmo após o transcorrer de anos tais cosmovisões ainda se chocam e por mais contrastante que seja, oferecem as mesmas entranhas logísticas, insistindo então em uma revisão subjetiva. Isto uma vez que dominadores ainda insistem em propagandear suas façanhas mascaradas e forçar a adesão a suas práticas alienadoras.

A nível exemplificador podem ser citados o embate na usina de belo monte, a construção do setor noroeste em Brasília, e a desapropriação das terras dos Guarani Kaiowá. E a característica comum que perpassa por todos esses exemplos é a insistência sistêmica de minorizar qualquer traço cultural indígena “retrógrado”.

Chegamos em um ponto social que faz-se necessário refletir sobre quais aspectos e caminhos são norteadores da sociedade. Trata-se mais de uma questão de subsistência. Vivemos sob sistema econômico que subordina todas as relações sociais ao dinheiro e ao lucro, por mais que essas relações sociais, e porque não dizer familiares, sejam de povos que sempre foram donos da terra.

A atual conjectura de lutas comprova um fato histórico, que prevalece desde tempos da chegada do dominador e suas naus. Mesmo após 500 ano continuamos vivendo sob uma ótica dominadora que eurocentrista que busca cada vez mais concentrar valores de papel e diluir valores sociais concretos.

Precisamos transpor horizontes capitais e visualizar muito mais do que o frenesi do consumo. Devemos colocar em xeque um valor central da lógica dominante que é de mercantilizar a vida. Como dizia a canção “quando teu menino lhe perguntar, papai cadê o índio e a cachoeira, diga a ele, peraí meu filho vou ali comprar.”



A ditadura da especulação - http://vimeo.com/50859076

Tecnologia do Blogger.