“Em muitos lares mexicanos os champanhes estouraram comemorando a
chegada do ano novo e a entrada em vigor do Nafta (North American Free Trade
Agreement) ou TLC (Tratado de Livre Comércio) ... A tão anunciada porta para o
chamado primeiro mundo, como não cansou de propagandear o governo do então
presidente mexicano Carlos Salinas de Gortari, eleito em 1988.
Mas naquela mesma madrugada de festa, das
entranhas do esquecido México profundo, no coração da longínqua selva lacandona,
milhares de mestiços e índios das etnias tzotzil, tzeltal, tojolabal, chol,
mame e zoque, herdeiros da cultura maia, desceram das montanhas para ocupar
várias cidades e localidades do empobrecido Estado de Chiapas.”
Pedro Henrique
Falco Ortiz inicia sua resenha “Das montanhas mexicanas ao ciberespaço”, referenciada
à EZLN, com os dois parágrafos precedentes. Torna-se evidente a conformação de
duas cosmovisões antagônicas. Uma transpassa o estereótipo do dominador, que se
apossa de artifícios propagandistas a fim de vender uma lógica egoísta. A outra
se perfaz por interesses subalternizados e esquecidos pela indústria estatal.
A formulação da EZLN não foi ímpar e nem será a ultima. O fator contundente
é que mesmo após o transcorrer de anos tais cosmovisões ainda se chocam e por
mais contrastante que seja, oferecem as mesmas entranhas logísticas, insistindo então em uma revisão subjetiva. Isto uma
vez que dominadores ainda insistem em propagandear suas façanhas mascaradas e
forçar a adesão a suas práticas alienadoras.
A nível
exemplificador podem ser citados o embate na usina de belo monte, a construção do
setor noroeste em Brasília, e a desapropriação das terras dos Guarani Kaiowá. E
a característica comum que perpassa por todos esses exemplos é a insistência
sistêmica de minorizar qualquer traço cultural indígena “retrógrado”.
Chegamos em um
ponto social que faz-se necessário refletir sobre quais aspectos e caminhos são
norteadores da sociedade. Trata-se mais de uma questão de subsistência. Vivemos
sob sistema econômico que subordina todas as relações sociais ao dinheiro e ao
lucro, por mais que essas relações sociais, e porque não dizer familiares, sejam
de povos que sempre foram donos da terra.
A atual
conjectura de lutas comprova um fato histórico, que prevalece desde tempos da
chegada do dominador e suas naus. Mesmo após 500 ano continuamos vivendo sob
uma ótica dominadora que eurocentrista que busca cada vez mais concentrar valores
de papel e diluir valores sociais concretos.
Precisamos
transpor horizontes capitais e visualizar muito mais do que o frenesi do
consumo. Devemos colocar em xeque um valor central da lógica dominante que é de
mercantilizar a vida. Como dizia a canção “quando teu menino lhe perguntar, papai
cadê o índio e a cachoeira, diga a ele, peraí meu filho vou ali comprar.”
A ditadura da especulação - http://vimeo.com/50859076
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